Há quem baseie um sentimento de superioridade na sua posição social, no seu degrau acadêmico ou nas riquezas de que dispõe. Ingenuidade ou ignorância, em humanidade. Essas pessoas, diante de qualquer falha própria que se revele, ficam constrangidas, envergonhadas, sentem humilhação. É a fragilidade que o orgulho causa. Posso sentir superioridade em quem tem mais luz, maior compreensão ou melhores sentimentos que eu, mas nunca por aspectos externos. E não é uma superioridade arrogante, ao contrário.
Reconhecer erros é um privilégio que nos permite trabalhar nas correções, nas superações. Aos orgulhosos só é possível reconhecer erros nos outros. Os próprios, escondem, negam, e isso os faz seguir cometendo os mesmos erros. Enquanto o orgulho amesquinha o espírito, a humildade a engrandece; o orgulho é estúpido, a humildade é perspicaz; o orgulho se ofende, a humildade aprende; o orgulho acusa, a humildade compreende.
Apontar uma falha minha não me espanta, não me ofende, não me revolta. Sei ter um montão delas e procuro corrigir as que posso, as que sou capaz e as que vou me capacitando aos poucos. Mas não se espere que eu me sinta humilhado por errar. Haverá alguém que não erra? Trabalhar os próprios erros nos capacita pra trabalhar na coletividade. Aliás, acho que o trabalho interno é um pré-requisito pra um trabalho externo eficiente, que renda frutos.
Mas um papel feio é o de apontar falhas alheias, com sentimentos destrutivos, raiva, desprezo, como quem tem o direito de punir, buscando ferir, humilhar, diminuir o outro. É o papel da ignorância, de quem não reconhece sua própria humanidade e se comporta como se não tivesse suas tendências pra cuidar, seus próprios erros a corrigir. Um comportamento comum, o dos acusadores.
Uma pessoa assim comete vários equívocos e leva a pior. Não consegue enxergar o que precisa pra se melhorar, não pode trabalhar nas próprias falhas e segue tropeçando nas mesmas pedras, sofrendo conseqüências sem perceber sua responsabilidade, atribuindo a “culpa” a qualquer um ou qualquer coisa. Acaba enxergando a realidade como lhe convém (e não como ela é) e sofre constantes decepções. Sem entender nada e, freqüentemente, tumultuando tudo à sua volta.
(Eduardo Marinho)